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Tudo Em V​ã​o

by Fábio de Carvalho

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1.
Canto I 03:36
Acordei seis da manhã me aprontei me decidi enquanto eu descia as ruas o vento batia nos meus olhos, cansados fiz questão de acertar o horário, dessa vez no ônibus cheio pego a Odisséia pra ler, toda vez Chego atrasado na aula, o rosto pálido e suado sento na primeira fila e cego não enxergo o que diz o quadro no intervalo converso com meus colegas sobre nada em especial no corredor todos se vestem como se fosse carnaval Mas não faz mal eu é que sou um tremendo rabugento e almoço no bandejão avante para a próxima estação Todo fim de semana o mesmo esquema domingo vou ao cinema com meu pai só pra discutir sobre tudo que não concordamos e é sempre um alívio quando não brigamos Sábado de noite ir pra savassi com o intuito de madrugar sempre fico ansioso, corro pra algum banheiro só pra conseguir respirar eu vejo as pessoas elas são tantas pessoas como esse mundo pode aguentar quando penso nisso temo que minha garganta possa fechar sou um neúrótico
2.
Faça-me um espelho Que só enxergue você Vamos assistir a qualquer seriado Que você escolher Não tenha medo não As luzes já vão se ligar E todo esse vazio existencial Vai se apagar na mesa do bar Eu tenho fé em você E eu sei que vai tudo correr bem Só porque você não se lembra Da separação do seus pais Não quer dizer que não sofreu Entendeu? É tudo uma questão de complicar Me passa essa luz que cai da sua mente E só me deixe passear Eu preciso dela mas ela não precisa de mim
3.
Inverno de 2015 a culpa enche meus pulmões de ar eu pulo de todo edifício sem saber voar digo pros meus amigos que não vou colar, dessa vez mas são dez horas da noite e eu não sei o que você me fez eu encontro conforto em jogos antigos de computador vejo meu avô deitado, sem conseguir mexer seus braços seus olhos confusos não conseguem reconhecer quem eu sou tem tantas coisas passand pela minha cabeça mas nada realmente vale pra justificar alguma coisa aconteceu naquela festa e nada vai fazer isso mudar estou tão envergonhado as pessoas vão parando de ficar do meu lado até quem eu mais precisava e sei das suas obrigações mas eu queria ser a prioridade de alguém mas se bobear vai compensar assim eu tenho tempo de fazer minhas coisas
4.
E agora eu estou escutando DeBussy, que me lembra de Hayao Miyazaki, a Viagem de Chihiro, que me lembra de um tempo em que eu me emocionava assistindo filmes. Hoje minha cabeça anda muito presa, em questionamentos sobre a veracidade dos meus sentimentos, e relacionamentos, rotas de transporte público, e críticas de filmes com que eu não me importo. Sinto falta de sentir sem compreender, e ontem eu sonhei com a lua e o sol pareados no céu da noite, e com meu pai. Nesse sonho o sol e a lua se encontraram, e algo começou a cair do céu. Eu fechei os olhos e escutei as coisas evaporarem ao meu redor. Acordei com o coração acelerado e dormi de novo, pensando que talvez estivessse tudo errado. Eu escuto dezembro chegar e não consigo dormir Não vou me machucar Não tenho tido tempo de escrever as minhas músicas. Mas mesmo assim eu passo as madrugadas, com papel e uma caneta na mão. Eu não tenho tido tempo de agradecer pelas pessoas que eu amo. Me sinto tão distante, e isso tem me comido vivo atualmente. Não sei o que eu posso fazer, as pessoas vão escapando das minhas mãos. Todo mês a mesma coisa, existe um limite pra tudo. De noite relendo as mensanges com a mulher que eu amava, quando fomos amigos, quando ela ainda não tinha ido para a Dinamarca. Eu fui tão possessivo, eu fui tão rancoroso. Não consegui comer, ou dormir, mas sonhava o tempo. Quando você vê a mulher que você ama beijando outra pessoa. Existe vozes e vozes todos estão indo para uma festa mas eu preciso descansar vou fazer um esforço pra não me masturbar resolver tudo que eu preciso adiantar fazer duas faculdades as vezes é uma loucura no ano de 1895 foi filmada a chegada de um trem na estação imagine todas as pessoas se assustando quando trem passava na projeção ultimamente eu tenho pensando tanto na morte eu nem consigo conceber que horas são Meu ofício é escrever músicas, e isso vai me acompanhar até o dia em que me coração parar. E eu não sei fazer mais nada, e isso vai me acompanhar até o dia em que meu coração parar, provavelmente ao cinquenta anos de idade. Ou pelo menos é o que o meu médico diz ser. E será que eu vou ter uma família pra me ver morrer? Será que vou ter amigos pra entristecer? Dentro de qual caixão será que vou apodrecer?
5.
6.
Lobo 05:34
Sentados naquela escada era primavera e você gripada nós vimos o lobo se aproximar, com cuidado Eu me assustava com todos os insetos meu pai me perguntava se eu era um homem, ou uma batata Luzes de uma festa entro em um elevador, nervoso mas escondo minha pressa meu meu melhor amigo vem pra me receber Eu e meu melhor amigo nós vivemos nos fodendo mas nunca desistimos nós sabemos o que tem no fim desse rio Lembro de supor que o mundo era só eu quando minha cabeça atravessou a parede de vidro na casa dos meus primos Meus pais só sabiam dizer que deus me dera a glória mas eu não sei , eu não sei Aos sete anos volto pra casa vou para a cozinha na gaiola meu passarinho suas asas não se mexem eu ergo seu corpo frágil, e peço para deus fazer alguma coisa mas nada acontece onde está aquela glória agora? Por do sol a brisa escorrega suas patas de uma rocha meus tios se juntam pra lhe resgatar volto pra casa chorando pensando que ela nunca mais vai voltar Me sento sobre a mangueira as folhas servem de travesseiro e adormeço.
7.
Ano Violento 03:46
É inegável que todo rolé que eu entro desde o mês de setembro carrega um fardo que não compreendo. Tudo parece uma introdução a um diálogo platônico, e se em algum momento eu saí da caverna foi numa festa no início de 2014. Saindo do cinema com uma garota o meu ar era de melancolia, e o dela de expectativa, talvez. Tive a impressão que tinha decepcionado, o que é uma forma delicada de dizer que não tive coragem de beijar seus lábios. Me sentindo derrotado, tudo que eu conseguia pensar era na pressão que meus amigos haviam feito, e ainda iam fazer. Hoje eu tenho 18 anos, mas tente explicar pra um menino de 16 anos o quanto ele está errado. Tive que contar pra eles que eu falhei, eu falhei. E que aquela noite eu ia beber, ia beber, pra me esquecer do ser humano ridículo que eu sou, eu sei. Nós fomos para um festa e eu saí correndo, perdi meu fôlego, maconha demais, minha pressão estourando. Peguei na mão dos meus amigos e disse: esse será meu meu fim, e ele será extremamente tragicômico. Eles riram de mim e disseram: fábio, cê tá viajando cara. E viajando eu estava, mas deus sabe que eu não estava brincando. Subitamente aquela sensação se tornou na coisa mais sublime que eu já havia experimentado. Conseguindo sentir tudo, só que muito ampliado, me aproveitei disso o máximo que pude. Mas dez minutos depois um acidente de trânsito acontece na rua e eu entro em pânico as próximas duas horas tenho que escutar um homem gritando. Ao chegar em casa penso, que belo começo para um ano. No outro dia nem consegui sair. Disse pros meus amigos que eu preferia ler Noam Chomsky.
8.
Relógio 07:15
Minha mãe foi a esposa de um homem que morreu em um acidente de trânsito no norte do país. Ela conheceu meu pai na escola de música, ela toca piano e ele toca tromepete, eu nasci no ano de 1997. Eles se separaram em 2002. Eu lembro de acompanhar meu pai em um casamento em que ele tocou com seu grupo, e pensar que minha vida estava acabada. Desde os cinco anos de idade o peso da existência bate na minha porta toda manhã. Quando eu escuto o som ensurdecedor dos pássaros se levantando eu não consigo mais dormir. Eu tive minha primeira crise em 2014, e me senti como aquele menino de cinco anos de idade. Naquela época meu pai me levava dirigindo ao redor da cidade, até eu conseguir dormir. Agora eu acho que isso seria um pouco ridículo. Tenho memórias de um cara que namorou minha mãe por alguns anos. Nós jogavamos Diablo II e assistíamos Guerra na Estrelas. Lembro de sentir nojo ciúmes quando ele beijava ela. Lembro do medo que sentia dos meus pais morrerem, e sei que esse medo ainda está em algum lugar dentro de mim. Eu tinha tanto medo de dormir na casa dos meus amigos, porque eu pensava que meus pais iam sumir. Fui batizado em três ou quatro igrejas na minha vida, e cada vez que eu mergulhava na água cheirando a cloro eu ficava mais e mais e mais vazio. Eu nunca olhei nos olhos de deus, mas será que isso importa tanto assim? Não sei. E isso parece um pensamento interessante, mas já sei que minha psicóloga vai cortar minha onda. Como ela sempre faz. Não sei . Hoje é minha formatura. Comi muita comida japonesa direto dos barcos de madeira servidos nas mesas. Abracei meus professores de matemática, e minha professora de português, que havia sido demitida. Ela estava bêbada, estava feliz, mas no fundo provavelmente um pouco frustrada. Conversei com meu amigo que parecia bem culpado, quando eram três horas da manhã nós dois chorávamos. Depois disso entrei em uma espécie de colapso, mergulhei minha cabeça em uma cachoeira artificial cheia de pedaços de lixo e de plástico, o que fez todos meus colegas rirem. Com meus cabelos sujos e pegajosos escutei os babacas do terceiro ano quebrando copos no salão ao lado do banheiro, e regozijei ao lembrar que nunca mais precisaria ver eles. Nem me perguntei onde estava meu amigo Raphael, e no outro dia descobrimos que ele havia sido arrastado para fora da festa por um segurança, e que um grupo de caras haviam o cercado e espancado. Ele gritou por ajuda, mas todos estavam bêbados e dopados demais pra ouvir. Não sei. Quando voltei de táxi com dois amigos o céu de Nova Lima estava rosa, e no caminho para Belo Horizonte um silêncio inconcebível me enfeitiçou. Eu sabia que tinha perdido por completo quem havia sido o amor da minha vida até ali, e no meu coração não havia um traço de esperança. Perguntei ao meu amigo se ele compreendia que aquele era um dos grandes momentos de nossas vidas, o céu rosa e as montanhas repletas de casas e árvores. Ele me disse que estava dormindo.
9.
Eu aprendi que a única coisa que pode te salvar de si mesmo é outras pessoas e não tente me dizer que tudo que eu faço está errado porque eu sou como um cão, eu como e cago, eu como e cago as vezes eu não consigo sentir empatia por ninguém preciso da minha psicoterapeuta pra dizer que está tudo bem Quando o tempo passar (nossas peles vão apodrecer) quando o tempo passar ( as moscas vão parar de encostar em nossas peles, porque outras pessoas jovens vem nos substituir) e então parceiro como você vai se sentir? Eu escrevo canções assim quando estou extremamente confuso diga-se de passagem esse tem sido o caso em todos os dias desses mês e se a sua cabeça fosse a ilha do Japão e seus ideais uma estante na ilha do Japão se houvesse um terremoto na ilha do Japão eles cairiam todos ao chão, todos ao chão eu não preciso de conforto emocional, meu irmão Quando o tempo passar (nossas peles vão apodrecer) quando o tempo passar (as moscas vão parar de encostar em nossas peles, porque outras pessoas jovens vem nos substituir) e então parceiro como você vai se sentir? quando casos amorosos não vão ser o suficiente pra te distrair Algumas bandas são feitas pra acabar outras são feitas pra me lembrar de você Os floreios da juventude ainda estão em mim Você ama o corvo que existe em mim?
10.
Paz Imensa 03:54
Sal na ferida nunca foi tão bom e todo apartamento que eu entro lá no centro da cidade tem seu cheiro eu te vejo em cada espelho alucinando meus desejos No caminho de volta pra casa eu vejo Jesus Cristo estendendo suas mãos mas eu não ligo eu só piso em toda poça, toda pessoa Eu não quero ser salvo e tudo te destrói só queria passar um fim de semana ao seu lado Fogo eterno nunca sei terminar as conversas que eu começo eu nunca deixei as pessoas irem embora e se você souber da invencibilidade da memória Nos meus sonhos pontes feitas de perdão a sensação de que sou um monstro, pela quarta vez Meu orgulho é Maria você não sabe quem seu filho é eu ergo a cruz todos querem provar alguma coisa Existe uma particularidade nas festas da juventude que nasceu no fim do século XX Eu só quero férias.

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geracaoperdida.bandcamp.com

Têm algumas pessoas que estão presentes em todas essas músicas, de uma forma ou de outra. Meus agradecimentos a todas elas:

Minha mãe, Claúdia, e meu pai, Ricardo, por aguentarem minhas bobagens, pela comida japonesa e por serem uma influência imensa na minha vida.

Minhas avós Edimeia e Maria, e meus avôs Edson e José Hugo.

Às amizades: Victor, Fábio, Diego, Guilherme, Débora, Leonardo, Rodrigo, Nanda, Isabella, Samuel, Bigode, Karol, Adriano, Clara, Ana, Bráulio, Kravis, Luiz, Palmer, Bello, Arthur, Jonas, Gap, Boi, Soares, Randolfo. Gostaria de agradecer a todxs, pelos momentos bons e ruins, pela inspiração e pela paciência comigo.

À Vitor Brauer, Marcelo Diniz, Jonathan Tadeu e todo o coletivo Geração Perdida, pela oportunidade e apoio, Lucas Maranhão pelo baixo, Luan Nobat e ao Estúdio Giffoni.

credits

released June 29, 2015

Tudo em Vão foi produzido por Vitor Brauer no estúdio caseiro da Geração Perdida de Minas Gerais.

Todas as letras, vozes, e guitarras por Fábio de Carvalho, exceto solo em "Meu Filho, Isso Acabou de Começar", por Vitor Brauer

Todos os baixos por Vitor Brauer, exceto em "Canto I" e "L'arrivée D'un Train À La Ciotat, 1895", também por Fábio de Carvalho

Todas as baterias gravadas por Fábio de Carvalho no Estúdio Giffoni.

Trompete em "Meu Filho, Isso Acabou de Começar" por Ricardo Penido, meu pai.

Mixado por Vitor Brauer.

Arte da capa, "Animals Have Souls", por John Lurie.

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Fábio de Carvalho Belo Horizonte, Brazil

Compositor de Belo Horizonte, Minas Gerais. Agora é um dos membros do selo Rubedo Discos.

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